Espaireça

Teresa, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje na minha
vida, inclusive o porquinho-da-índia que
me deram quando eu tinha seis anos.

Manuel Bandeira




A noite na estrada

sábado, 28 de agosto de 2010


Andei sumida, mas hoje resolvi escrever.



Cheguei agora de um breve bate-volta ao Guarujá. O tempo não estava dos melhores, não vi sequer a cor do mar, abandonei os amigos, mas foi uma noite bem agradável e diferente. Além disso, sair da secura torturante de São Paulo deixa qualquer indivíduo de bem com a vida né?
No caminho de volta, a pista era quase deserta, o que me fascinava. Tenho uma estranha paixão por estradas. Elas são silenciosas, mas me dizem tanta coisa... Nela os carros passam batido e seguem um rumo determinado. Já eu me jogo em devaneios desordenados que fazem curvas à alta velocidade, ainda mais quando alguma música acompanha minha viagem. Só a música tem o estranho poder de nos transportar no tempo e no espaço de uma forma alucinante. Não importa se ela é sofisticada ou não, se tem rimas pobres ou ricas. Seja Caetano Veloso dizendo " Não importa com quem você se deite / Que você se deleite seja com quem for / Apenas te peço que aceite /O meu estranho amor " ou Fernando & Sorocaba dizendo " Hoje cedo acordei, mas sei lá / uma coisa diferente em mim ", a música quase sempre nos remete a algo, ou alguém. E cada ponto que atingíamos da serra do mar me deixava ainda mais perdida nos pensamentos. A combinação de velocidade, cheiro de mata latifoliada e música sertaneja me levava cada vez mais longe. Voltei um ano atrás, em uma cidade pacata de sotaque caipira. Fechei os olhos e pude até ver o sol cintilando através do insulfilm e a placa da cidade se aproximando. Quando abri, me decepcionei com a placa que indicava apenas “São Paulo- 23 km”. Eu queria que a viagem nunca acabasse até que eu visse a cidade do meu sonho.
Aqui dentro era tudo estranho e inexplicável. Aconteciam coisas que fugiam totalmente ao meu controle. Não havia radar ou qualquer outro tipo de fiscalização. Apenas uma única sinalização estranha. Eu e minhas estradas com minhas estranhas paixões...
Mas uma mudança brusca de música me despertou daqueles bons delírios e me trouxe de volta para São Bernardo do Campo.
Então, não me restou outra saída, a não ser seguir para casa a contra gosto, abrir o lap top e traduzir minha decepção nessas palavras sonolentas. Boa noite.

Poema da coisa única

domingo, 8 de agosto de 2010

Eu sei que sou suspeita para falar do Rafael Cortez. Ele pode ser um palhação, beijar umas barangas na rua ou até fazer  piadas sem graça de vez em quando, mas minhas segundas feiras são muito mais alegres por causa dele e dos outros meninos do CQC. Fato.
E em uma das tardes ociosas de julho, achei esse poema que me fez ficar ainda mais apaixonada por ele!




Minha mente é tomada de assalto:
ouço essa África, que não pede licença
Pra me dizer o que pensa.
Que me faz ir de um só salto,
Da savana mais densa,
À casa que está longe, imensa...
morada que permanece propensa
À saudade que me é lançada.


Meu sono raro traz a infância bem guardada,
O carro velho e branco
Que pegava só no tranco,
A namorada antiga, que só existe num vão pranto,
Os amigos que se foram,
Cada um para o seu canto
- desde o antigo, que está morto
Ao mais velho, que é algum outro.


Misturam-se as sensações se tendo o novo e o velho à vista
- ainda que do novo tudo se atiça,
E do velho muito se saúda.
Corre, absurda, uma lembrança obscura,
Uma sensação de que tudo se fora,
Uma vista que fica, então, turva,
O rememorar à partir de uma uva,
Sorvida com álcool na taça miúda.


A cada noite de Bossa uma sensação nova,
Constrastando com a euforia do atleta,
Do grito guardado de Hexa!
- da vontade de cobrir uma festa;
A alegria da experiência tão nossa.


Os contatos,
Os gostos na boca,
Os sons de euforia!
Os abraços, os povos nas roupas,
Culturas em harmonia.


Bandeiras de países diversos
Mesclados aos versos
De hinos orgulhosos.


Pensamentos perversos,
Sentimentos imersos
Em momentos proveitosos.


No meio da euforia popular perde-se o indivíduo.
E eu resgato o meu comigo,
Na vontade de voltar e no estar aqui fundido.
Hj eu não sou só eu, sou um planeta.
Hj eu não sou planeta coisa nenhuma.
Eu e o RafaeL somos uma coisa única.
Rafael Cortez

Assim da pra ver com nitidez
que atrás do garoto fanfarrão com pele de golfinho
Há um poeta lindo e cortês.  ^^
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