Espaireça

Teresa, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje na minha
vida, inclusive o porquinho-da-índia que
me deram quando eu tinha seis anos.

Manuel Bandeira




Eu vi

segunda-feira, 14 de março de 2011

O filme “O discurso do Rei” ganhou quatro prêmios no Oscar e liderou as bilheterias britânicas, o que muito despertou a minha vontade de assistir. Mas esse sábado, assisti ao filme que lidera as bilheterias brasileiras: Bruna Surfistinha. Sei que eu poderia ter destinado meu tempo para algo mais produtivo, mas resolvi deixar o preconceito de lado e conhecer a Bruna/Raquel no corpo invejável da Debora Secco. Na sala ao lado passava o filme do nosso querido Justin Bieber. Quando me dei conta, eu estava vendo a Debora Secco pelada ao som de “you smile, i smile...”.


Sexo, dinheiro, drogas, sexo poderiam traduzir perfeitamente o filme, mas vou um pouco além.

Como toda adaptação, o filme não é fiel ao livro “O Doce Veneno do Escorpião“, escrito pela ex- prostituta de classe média que resolveu fazer programa por escolha e prazer. Não li o livro, mas sei que as páginas cheias de vulgaridade, detalhes grotescos e palavras chulas mostram uma menina que teria outras opções para atingir sua tão desejada independência financeira, diferente da versão um pouco vitimizada e romanceada que o filme cria. Não satisfeita com a sorte de “cair” em uma família rica, a garota adotada e estudante do colégio Bandeirantes tinha uma estranha compulsão pelo roubo. Roubava o pai e a mãe sem o menor remorso, logo depois abandonou a família sem se importar se morreriam de saudade e desgosto. Trocou a vida de burguesinha pela de prostituta de 17 anos para ganhar 40 reais por programa.
Mas o negócio vingou. Ela conseguiu sua autonomia, sem perceber que se tornara escrava do próprio corpo. Aberta as mais diversas experiências, a menina com cara de surfistinha foi promovida à “empresária do sexo”, encheu o bolso de dinheiro à medida que enchia seu flat de homens, a maioria deles casados e ricos, incluindo até um jogador de futebol!




A surfistinha continuou seu negócio lucrativo (enquanto isso a música do Justin continuava a invadir minha sala... baby baby baby oohh), cobrando 300 reais o programa. Continhas básicas: Cinco programas por dia (chutando muito baixo) de segunda à sexta lhe rendia cerca de R$ 30.000 por mês, mais do que muito engenheiro, médico ou jornalista.
Sob as nuances da pornografia, o filme de Marcus Baldini mostra sem vergonha alguma a absurda banalização do sexo e da fama. A garota se tornou celebridade na internet, blogueira (seu blog era acessado por quase 15 mil internautas!) e até “escritora”. Sua vida promiscua se deita nas linhas do O Doce Veneno do Escorpião, que vendeu 250 mil exemplares e foi traduzido para 15 idiomas. (Que sacanagem!). E eu estudando Jornalismo e escrevendo nesse blog abandonado com ONZE seguidores! Prefiro não entrar no campo da moral, valores ou crenças, nem discutir se assistir Bruna surfistinha é futilidade ou não (eu ainda vou assistir O discurso do rei), mas é BROXANTE ver uma prostituta com tamanha notoriedade como se fizesse por merecer. Por que será que falar de sexo, usar um micro vestido rosa ou aparecer no BBB é o bastante para ser notado e conhecido? O que vale mais, ser conhecido ou reconhecido? O ranking de bilheteria já responde à pergunta.
Apesar de tudo isso, do caráter comercial e das cenas fortes (algumas nojentas), o filme também traz um pouco de conto de fadas, por incrível que pareça. Um filme desse não é o melhor programa para um sábado à noite, mas até me surpreendi com um outro aspecto. A danada conseguiu fazer um de seus clientes (Cassio Gabus Mendes) se apaixonar perdidamente. Ele largou a esposa e hoje vive feliz para sempre não mais com a Bruna Surfistinha, mas com Raquel Pacheco, ex-garota de programa. Ele percorreu todas as curvas sinuosas do seu corpo para enfim chegar ao coração, transformando o que deveria ter sido puramente carnal no sobrenatural.



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