Espaireça

Teresa, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje na minha
vida, inclusive o porquinho-da-índia que
me deram quando eu tinha seis anos.

Manuel Bandeira




TIC TAC

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Uma coisa que tem me incomodado muito nesses últimos dias é o natal. Há semanas que subo as escadas do metrô, cambaleando de sono e arrastando um peso que parece infinito e dou de cara com uma árvore de natal toda enfeitada (muito mal, por sinal). Isso causa um impacto meio forte para se sofrer às 6 e meia da manhã, início de um dia longo e maçante de cursinho.
25 de dezembro, uma data linda sim, embora as pessoas a usem hipocritamente para pôr em atividade as virtudes e a harmonia que o ano inteiro foram jogadas no bueiro do esquecimento, além de alimentar as boas esperanças para o novo ano que em se aproxima (no qual se passará a mesmíssima coisa).
Na verdade nem é esse o foco do texto, quero falar mesmo é da mania que o povo tem de SEMPRE antecipar as coisas, com meses de antecedência já se fala de panetone, chester e todas as liquidações malucas de natal. Tenho certeza de que logo que virar o ano, a páscoa já vai reinar em todos os lugares também. Tudo isso só para incentivar o consumismo? Todas as decorações alegres e iluminações das ruas são apenas para nos fazer gastar com presentes caros e garantir uma mesa farta? O Natal hoje é um símbolo de consumo. Há tantos que vêem nessas datas um dia de engordar e presentear, que coisa! Nem se lembram do Cara que mais merece atenção e prestígio.
O brilho ofuscado durante o ano inteiro recupera-se acompanhado do espírito natalino que nasce repentinamente nas pessoas, cheias de discursos ufanistas e um pouco utópicos, a violência só vai deixar de existir se todos nascerem novamente, não de um ano para outro. Fico imaginando o porquê da proximidade do ano novo gerar tanto impacto, todos resolvem se amar, se abraçar e proferir palavras de sucesso uns aos outros, mesmo após um ano assaz turbulento. O fim do ano tem o estranho poder de transformar nos em verdadeiros atores e atrizes.
Tenho a impressão de que o mundo gira a cada dia mais rápido, e exigi de seus moradores a mesma pressa e impaciência, mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma. Justamente por isso que o presente se faz cada dia precioso e deve indubitavelmente ser vivido de forma mais intensa possível. Por que não venerar o natal em sua propícia data? Acredito que essa espera louca pelo futuro em detrimento do presente é que faz do tempo um grande inimigo de muitos de nós. Ele chega apressado e sem paciência, torna-se cada dia mais escasso na medida em que se deixa de aproveitar o que está acontecendo hoje para se preocupar com amanhã.
Claro que deve haver planejamentos. Almejar e garantir prosperidade para o futuro é legal, mas isso não pode tirar nosso apreço pelo dia de sol que faz hoje, até porque o amanhã nunca chega, todo dia já foi amanhã, hoje e será ontem. Esse conceito de tempo nos remete a questionar quem foi o criador dessa massacrante contagem regressiva que dá ao homem a horrível sensação de estar sendo consumido como as farturas de uma mesa de natal.

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